Dias de chuva (em Londres e na praia)

Acabo de acordar nessa quarta-feira chuvosa em Londres. Como e' meu unico dia de descanso na semana, e esta chuvendo la fora, terei que ficar em casa e nao fazer nada. Fiquei de certa forma mais tranquilo por saber que agora tenho uma desculpa para os outros tantos moradores aqui de casa que chegarao daqui a pouco e nem me perguntarao o que fiz hoje, onde fui, que lugares visitei... afinal, esta chovendo.

- Puiseh, que merda essa chuva neh??? Nao deu pra fazer nada hoje!

Digo eu a cada um que entra, antes que se permitam, mesmo com a chuva, a me questionar a respeito de qualquer atividade. Mais admirado fico eu quando na minha leitura pela Folha-On Line, descubro um tal Hermelino Neder, professor de musica e compositor que escreve uma coluna nova, chamada Diario, Depressao e Fama. Me chamou a atencao o titulo e fui ver qual era. Eis que encontro na coluna inicial do cara o seguinte texto:

Um deprimido prefere praia com chuva. Lista de vantagens:
1. Não dá culpa se não quiser ir. Uma culpa a menos já vale a pena para alguém carregado de culpas pelas oportunidades perdidas.
2. A areia não gruda no corpo.
3. A chuva lava o suor.
4. O sol não enche o saco.
5. Não precisa passar protetor. Isso é importante, protetor solar dá muito trabalho: tem que passar meia hora antes, tem que renovar a cada duas horas ou antes de duas se suar muito, tem que carregar aquela gosminha na pele e o frasco no bolso. Com filho pequeno, tudo de novo.
6. A praia fica mais deserta.
7. Com a praia mais deserta, dá menos vergonha mostrar a barriga e os outros componentes fora de forma, fatores de identificação de qualquer deprê.
8. Como há menos gente, há menos mulher gorda.
9. Não vem farofeiro. Farofeiro deprime ainda mais o deprimido porque sua existência é signo de pobreza, e pobreza dá muita culpa, e culpa deprime mais. Além disso, há farofeiro alegre.
10. A atmosfera exterior combina melhor com a interior.

Lista de desvantagens:
1. Não dá para usar óculos.

Uma vez, cruzei com outro barrigudinho numa praia com chuva. Só nós, num canto da praia. Ele sorriu, eu sorri de volta. Depois percebi que ele tinha me olhado com uma cara de "nós dois, hein?". Cismei: viado? Puro preconceito. Podia ser apenas alguém identificando um semelhante. Quando entrei na água, lá veio ele perguntar se era fundo. Mostrei que batia no umbigo e caí fora. Água no umbigo, sinal de perigo.

Me identifiquei total com o cara. Serio mesmo!!! Me senti o barrigudinho da praia.

Mas como estou em Londres, nao temos praia e nao temos sol, faco proveito do meu dia de folga em casa, na frente do computador, me assegurando que minha barriga nao me exclua da classe dos barrigudinhos-em-dia-de-chuva-na-praia. E vou mais alem ainda: usando oculos escuro!

Ps.: baseado em fatos veridicos.

gab.